segunda-feira, 11 de maio de 2009

Grande Sertão: Veredas – Para conhecer o sertão


"...toda saudade é uma espécie de velhice..."



A obra de Guimarães Rosa representa um marco na literatura brasileira. Publicado pela primeira vez em 1956, Grande Sertão: Veredas passou por algumas reformas, nas edições que se seguiram, na tentativa de melhorar o entendimento do leitor. Entretanto o maior atrativo da obra é justamente a linguagem pura e genuína do sertão. Para melhor compreensão do livro, faz-se necessário conhecer a alma do sertanejo.
O amor acalentado de Riobaldo e Diadorim vai se mostrando no desenrolar da história. Quando enfim esse amor pode se tornar real já não tem mais razão de ser: morto num confronto de jagunços Diadorim revela-se mulher. A paixão de Riobaldo, finalmente compreendida, mostra-se de forma louca e sofrida, ao perder seu grande amor: diadorim, que até então julgava ser um homem.
A história é narrada pelo protagonista. Riobaldo fala a um ouvinte invisível, a quem ele pede conselhos e dá ensinamentos. Assinalada pela luta constante do homem em compreender a vida Riobaldo aponta a disputa entre liberdade e prisão, medo e coragem, amor e ódio, morte e vida, bem e mal, lucidez e loucura, conduzindo à disputa maior: Deus e Demônio.
Sempre que o narrador quer dar um ensinamento, remete o ouvinte/leitor à figura de um compadre, seu Quelém, de Goiás. Na travessia da vida é que se faz a sabedoria...
Outro ponto interessante da obra é a visão do narrador acerca do sertão. Ele aponta definições interessantes que podem resumir e instigar o leitor: “O sertão é sem lugar”, “Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar”, “O sertão é do tamanho do mundo”, “Sertão é o sozinho”, “Sertão: é dentro da gente”, “O sertão é confusão em grande demasiado sossego”, “O sertão não tem janelas nem portas”, “O sertão é grande, ocultado demais”, “O sertão é uma espera enorme”, “Sertão o senhor querendo procurar nunca se encontra”, “O sertão está em toda parte”, “O sertão não chama ninguém às claras, mas porém se esconde e acena”...
No decorrer da história o sertão vai se revelando: a paisagem, os acidentes geográficos, os personagens e a revelação da alma do sertanejo.
A leitura do livro mostra quão importante é a religiosidade na vida do mineiro. Riobaldo luta para se convencer da grandeza de Deus, tem medo dos pactos que podem atrelar a venda da alma ao demônio à conquista do poder. Pra quê religião? “para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura”.
A astúcia, a perspicácia e a desconfiança, próprias do mineiro, o fazem diferente. “Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo mundo... Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa...”
A habilidade de Riobaldo em remoer suas lembranças e contar sua história para si mesmo e para um ouvinte invisível é a grande arma para não se perder de vista e continuar sendo. “Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma só coisa – a inteira – cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver – e essa pauta cada um tem – mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que ter. Senão, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doidera que é”. Aí está o significado da família e dos amigos para o narrador... Casa sempre cheia, com portas e janelas abertas, muita gente em torno da mesa, fartura e alegria. Pra quê? Guimarães Rosa é quem explica: “Para ajudar a enxergar o caminho!”


Um comentário:

  1. Obra fundamental!

    Para qualquer pessoa que deseja conhecer a literatura brasileira, esta é uma obra fundamental! O sertão aparece com arte, emoção e coração. Não deixe de ler esta obra que mostra o coração não apenas do sertanejo, mas do ser humano em busca do bem essencial.
    E otimo!!!!!!!!!!!!!!!

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