domingo, 10 de maio de 2009

Por Parte de Pai - Para quem não conheceu o avô...



“Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi o meu primeiro livro.”



Cidade pequena, história simples, personagens comuns... Especificidades de pessoas interioranas, narradas com muita sensibilidade. Ao ler esse livro, reconheci parte da história da minha vida, histórias que ouço desde pequenininha do meu pai, que revela uma infância rica em afeto e carinho. Eu, que não conheci o meu avô, ouço os conselhos dele ao ler o livro: “O tempo tem uma boca imensa. Com sua boca do tamanho da eternidade ele vai devorando tudo, sem piedade. O tempo não tem pena. Ele é o dono de tudo...” E tantas outras passagens do livro, que remetem a um tempo que, infelizmente, não pude viver e que só conheço graças a experiência de vida do meu pai e histórias contadas pela minha mãe...
Quem nasceu no interior de Minas e preza a família vai se encontrar nesse livro. A capa, as folhas amareladas e o enredo enchem o peito de saudade causando uma gostosa e preguiçosa nostalgia ... O sentido de família retratado no texto é tão amplo e tão significativo que dá uma vontade doida de fazer voltar o tempo só para experimentar essa vida... A condescendência do avô, o leite com farinha, as maledicências da vizinhança, o jogo de peteca e a queimada, o pé-de-moleque com rapadura, os quadros de santo e os retratos de família, carinhosamente pendurados nas paredes... Ouvir a ‘Voz do Brasil’ e tantos outros costumes que só quem é de Minas pode entender...
Talvez seja esse o valor maior desse livro: despertar o desejo de reviver ou conhecer fatos e acontecimentos, trazer à tona lembranças, recordações e vivências, aproximando-nos de nossas raízes, de nossa terra e de nossos familiares. A família tradicionalmente mineira é assim: faz da vida um ritual e devagarzinho vai vendo o tempo passar. E vai passando junto com o tempo, mas tudo espiando, tudo enxergando e muito aprendendo. A leitura do livro nos faz lembrar do almoço em família, das visitas aos amigos, da infância despreocupada e sem pressa, da missa do domingo – porque mineiro de verdade não deixa de colocar o caroço de milho na cumbuca...
A amizade e companheirismo entre avô e neto narrados por Bartolomeu Campos de Queirós é outra característica da família mineira. O afeto está sempre presente, mas em toques sutis, gestos discretos e não é por economia... É tão somente medo de se despir da austeridade, abrir a alma e mostrar um coração rasgado de ternura. O estar junto é tão importante que, às vezes, é confundido com preguiça. Você quer ter sempre alguém por perto: para dividir as tarefas do dia, para conversar, para divertir... Tudo desculpa para ficar perto um do outro.
Então, vai dizer que esse simples comentário não mexeu com suas memórias?
Pois bem. Leia o livro e você se pegará lembrando de coisas aparentemente sem importância: um brinquedo inventado pelo pai, uma comida especial da mãe, uma provocação gostosa de um irmão, um companheiro de infância e tantas outras lembranças... Sem importância, mas tão significativas que os anos não varrerão da memória e, quem sabe, até lhe despertará o desejo de escrever tais acontecimentos para partilhar com os outros e provocar muita, muita saudade...

2 comentários:

  1. Ainda não conheço o livro, mas faz muito sentido tudo isso.
    Tenho e terei sempre as mais belas recordações de minha rica infância na roça, na casa dos meus avós maternos. As brincadeiras tinham um sabor, um cheiro, um som que só existe em minha memória. A família era grande, eram nove tios. A casa era grande mas tinha apenas três grandes quartos, os tios ficavam em um quarto, as tias em outro e uma tia irmã do meu avô ficava no quarto do meio, o outro era o quarto dos meus avós.
    A cozinha era um lugar mágico onde todos se encontravam e ficavam assentados nos enormes bancos que ficavam rentes as paredes. Eu adorava ficar soltando a palha de café que ficava na moega do fogão de lenha.
    Adorava a comida da minha avó, de manhã ela temperava um leitinho que não existe mais, a broa. Hum!!! O feijão, o frango, o macarrão, o angu o arroz. Tudo tinha um sabor muito especial e não levava nenhum tempero artificial.
    A luz era fornecida por um gerador que ficava em um moinho movido pela força de um riacho, a TV demorou pra chegar, só tinha o rádio AM do meu avô, que chiava mais que falava, mas ele sempre acertava o relógio pela rádio.
    Brincar pelo enorme quintal era diversão obrigatória de todos os dias de domingo ou férias. Os pés de jabuticabas eram próximos uns dos outro e dava pra passar de um para o outro sem descer.
    Tomar banho no rio era uma farra tinha dias que saiamos quase a noite da água. Algumas vezes ficávamos brincando no quintal da casa a noite quando eram acesas fogueiras onde ao redor eram contadas muitas e muitas histórias. Os vagalumes eram um fascínio a parte. As estrelas eram tantas que não havia como não admirar.
    Agora que tenho sobrinhos e eles não conheceram nem ao meu pai e nem ao pae de minha cunhada, eles pediram pra eu ser avô deles. E eu prontamente aceite imediatamente, porque compreendo a importância desse cargo, porque senti em minha infância o carinho do meu querido avô. Que hoje é velhimho, mas um sábio, que zela de minha avó como se ela fosse uma musa e ela faz denguinhos para chamar a atenção dele todo o tempo.
    Vou correndo procurar este livro, deve ter muita coisa com a qual me identificarei.

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  2. Diane, nao conheço o livro, mas ja deu para sentir saudade do tempo da casas casas dos avos.Do tempo em que eramos crianças e reuniamos aos domingos e sempre faziamos o que era e o que nao era permitido, com eles pude brincar, crescer e aprender... sinto falta de todos, principalmente dos que ai estao...vovo Dalva, vovo Quinca e vo Norita...agora trate de me enviar um livro desse....

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